Folha da Bananeira: a história de um sonho que virou referência de sustentabilidade na gastronomia
- Gastronomia Paraense
- há 9 horas
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Por trás de um produto simples e ancestral como a folha de bananeira, existe uma história rica, feita de coragem, criatividade e resiliência. À frente da empresa Folha da Bananeira estão Enio Rodrigues e Maria Gorete Rodrigues, um casal que, ao unir suas trajetórias distintas, criou um negócio pioneiro no Brasil – e que hoje se firma como referência no fornecimento desse insumo natural para chefs e restaurantes.

O começo: da ausência à oportunidade
A ideia surgiu de forma inusitada. Morando em São Paulo, Gorete e Enio decidiram fazer um peixe assado na folha de bananeira, uma receita afetiva, cheia de memória. Mas... onde encontrar a folha? Depois de muita busca em mercados, feiras e sacolões, constataram o óbvio: o produto simplesmente não estava disponível comercialmente. O que era frustração virou faísca. “Se nós tivemos tanta dificuldade, imagine os chefs e cozinheiros?”, refletiram.
Assim nasceu a Folha da Bananeira – não como um plano de negócios estruturado, mas como uma aposta ousada num mercado inexistente até então.

Os desafios de um negócio “fora da caixa”
O início foi extremamente difícil. Como vender algo sem histórico, sem estudos técnicos, sem referências? Como transportar folhas frescas? Como conservar? Onde encontrar produtores? Não havia apoio do Sebrae ou de qualquer consultoria para algo tão específico. Sem capital para investir, viveram meses duros, contando com ajuda de familiares e amigos para sobreviver.

Mesmo assim, não desistiram. Frequentaram restaurantes, feiras gastronômicas, mercados e supermercados. Enio, com seu olhar criativo, buscava oportunidades. Gorete, com sua veia comercial e experiência administrativa, foi a força propulsora. O primeiro grande impulso veio de uma ligação para o restaurante Tordesilhas. Lá, conheceram Mara Salles, Neide Rigo e Ana Soares, que se encantaram com o produto e encomendaram 300 folhas para um evento do jornal O Estado de S. Paulo. A partir dali, a folha se tornou estrela.

Produto e propósito: entre memória e meio ambiente
As folhas de bananeira não são apenas um item decorativo. Elas evocam ancestralidade, afeto e lembranças de comida de roça. Ao serem usadas para assar alimentos, liberam polifenóis – antioxidantes naturais – que além de agregar sabor, oferecem benefícios à saúde.
No quesito ambiental, são uma alternativa real ao papel-alumínio, papel-manteiga e descartáveis sintéticos. Com elas, é possível servir alimentos em cumbucas, barquinhas ou lâminas feitas manualmente. Um utensílio natural, biodegradável e belíssimo.

Mercado e público: de "quem compra isso?" ao food service premium
Embora o público varejista ainda apresentasse resistência (“para que serve isso?” era uma pergunta recorrente), o mercado gastronômico logo abraçou a ideia. A Casa Santa Luzia tornou-se um cliente e parceiro fundamental. Depois, vieram Mambo, Záffari, Hirota e outras redes – mas a falta de conhecimento do consumidor comum fazia o produto encalhar. Gorete então vestia-se com elegância e passava horas explicando seu uso nos supermercados. Uma missão quase solitária.
A virada veio quando a empresa decidiu focar no food service. Hoje, 99% dos clientes são restaurantes e buffets. Entre os principais estão Manióca, Dom, Rosewood, Selvagem, Mocotó, Tatá Sushi, Camélia Ododó, além de instituições como Sesc e Senac.

Produção orgânica, distribuição com carinho
Atualmente, as folhas são cultivadas de forma orgânica por comunidades quilombolas no Vale do Ribeira. São colhidas com cuidado, transportadas semanalmente a São Paulo, onde são higienizadas, cortadas e entregues com logística própria ou via Sedex.
O controle de qualidade é rigoroso: apenas folhas novas, bem colhidas, com validade de até 20 dias e mantidas sempre refrigeradas.

Visibilidade na mídia e redes sociais
Com o tempo, vieram entrevistas, reportagens e aparições na TV. A primeira foi no Shark Tank Brasil, uma experiência desafiadora. Sem poder citar marcas e sem preparação para o formato do programa, receberam críticas, mas também elogios e visibilidade. Mais tarde, a tão sonhada aparição no Mais Você, com Ana Maria Braga, gerou repercussão nacional – embora o tom do convite (“faça como Gorete e Enio e complemente sua renda”) tenha gerado confusão e antimarketing. “Mas valeu”, lembram.
Nas redes sociais, o impacto é constante: novos seguidores, pedidos de orçamento, curiosidade crescente. A sementinha foi plantada e vem germinando a cada dia.

O futuro é verde (e promissor)
Os planos incluem ampliar a infraestrutura, investir em tecnologia, ampliar a base de agricultores parceiros e diversificar o público. Há também interesse em explorar a área de nutrição animal e saúde humana, graças às propriedades medicinais da folha.
Mais do que vender um produto, Gorete e Enio estão reeducando o consumo. “Se o assado fica mais gostoso, se você evita usar plástico, se economiza água... por que não usar folha de bananeira?”, questionam.

Uma folha, muitos significados
A Folha da Bananeira é mais do que um insumo. É símbolo de memória, de afeto, de brasilidade e de sustentabilidade. É resultado da persistência de dois sonhadores, que acreditaram numa ideia improvável e provaram que, com dedicação, uma simples folha pode virar revolução.
Para conhecer mais, siga o Instagram: @folhadabananeiraoficial
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