Quente ou gelada, bebida faz parte da tradição amazônica
O chá está entre as bebidas mais consumidas no mundo. Quente, gelado, de ervas, com novas combinações, verde, a granel ou em sachê. Com diferentes sabores, finalidades e modos de servir, o chá também faz parte da cultura paraense.
Quem nunca tomou um chá de boldo, erva doce ou hortelã quando era criança? Pois é, na cultura amazônica o uso do chá de ervas vai além do sabor. A maioria dos chás regionais tem propriedades terapêuticas, por isso são muito utilizados para o tratamento de problemas de saúde.
“Os benefícios do consumo de chá são antigos e carregados de crenças populares. Porém, os estudos atuais estão comprovando os benefícios desse consumo para o combate e prevenção de doenças como hipertensão, diabetes, distúrbios hepáticos, espasmos musculares e combate a artrite e reumatismo. Temos como exemplo os chás verde, preto, de erva cidreira, de boldo, hortelã e carqueja”, explicou o nutricionista Rafael Andrade.
Pesquisador do tema, Rafael publicou um artigo de especialização sobre os benefícios do chá em 2017. Segundo ele, a composição química de alguns tipos de chá é rica em antioxidantes e chás como o de camomila, capim santo e erva cidreira auxiliam no bem-estar. Já os chás verde e preto auxiliam na prevenção de doenças cardiovasculares. Ainda segundo ele, o ideal é tomar chá três vezes ao dia. “É recomendado consumir chá três vezes ao dia em porções de 200ml a 250ml, sem adição de açúcar ou adoçante. Uma colher de sopa de mel de abelha com duas gotas de própolis é a melhor forma de adoçar chás”, informou.
Sabor, rotina e autocuidado. Para a jornalista Carolina Neves (26), é isso que os chás representam. "Eu tomo chá quase todo dia. Ainda tomo café, mas
muitas vezes de manhã eu tomo chá preto com limão ou então faço chá preto com leite ao invés de tomar café preto. Às vezes eu compro uns blends de guaraná com açaí - são uns chás de sachês energizantes - e aí eu tomo de manhã. Eu tomo chá há muito tempo, por isso já tenho um certo conhecimento de quais são os chás que eu devo e posso tomar quando estou me sentindo mal. Quando eu tomo chá, sinto que estou fazendo bem para o meu corpo e para a minha alma porque ele me ajuda com certas dores e tem algo relaxante, quase psicológico. Tem uma coisa de autocuidado, por isso que eu gosto tanto de tomar chá", contou.
Carolina conheceu os chás ainda na infância, por meio da mãe e da avó. "Eu tomo chá desde criança. É aquela coisa: a criança está com gases, dá chá de erva doce ou hortelã. Se não consegue dormir, dá chá de camomila. Minha vó e minha mãe me davam chá. Mas eu mesma comecei a tomar mais quando fui ficando mais velha e comecei a ter curiosidade sobre o tema. Devo ter começado a tomar mais chá lá pelos 19 anos", lembrou.
"Morei um tempo fora e quando voltei para Belém, que tem uma cultura do uso de ervas muito forte, comecei realmente a consumir mais chá. Aqui eu tenho como comprar as ervas secas a granel - coisa que quando eu morava no interior de São Paulo não era fácil. Essa coisa das ervas é, de certa forma, um conhecimento mais regional. Os chás que eu sei que posso tomar são muito do que eu aprendi popularmente. Quando eu ia comprar um chá, conversava com as pessoas que estavam vendendo e elas sabem dizer para que serve cada erva", explicou Carolina.
Há cinco anos, Iran Silva (49) trabalha vendendo chás de ervas regionais no Ver-O-Peso. Vendedor ambulante, Iran é conhecido no local e as vendas são o sustento da família. "Consigo vender bastante, o chá é bem aceito pelos clientes. Essa é minha única renda e consigo me sustentar. Gosto desse trabalho, é bom trabalhar com ervas medicinais porque ajuda na saúde dos clientes", afirmou o vendedor.
No carrinho de chá gelado do seu Iran é possível encontrar uma grande variedade de sabores e ervas: chá de boldo; chá de mastruz com leite, unha de gato e capeba; chá de beterraba com laranja, maçã e cenoura; chá de gengibre com limão e açafrão; chá detox com couve, gengibre, pepino, hortelã, maçã; e o
chá "pra tudo" com barbatimão, verônica, jucá, pau tenente, uxi amarelo, espinheira santa e canela de velho.
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