Olá, Estranhos!!!
Belém vive o momento mais emocionante do ano, o Círio de Nazaré toma conta da cidade!! Não tem que more nesta cidade e não seja impactado por esse momento. Algumas pessoas definiram a festa como o Natal do Paraense, e não tem como não ser. Luzes por toda cidade, famílias vindas de todo o lugar, boa comida e o clima incrível de comunhão. A fé move a cidade durante o mês de outubro, mas é no ato de receber em casa que a comunhão é posta à prova.
Três coisas me chamam muita atenção nesse período. A primeira coisa inevitável são os pratos típicos desse período. São sempre comidas muito fortes em sabores, em energia e não importa o quanto as pessoas gastem a energia durante as romarias, eles se alegram ao saber que tem aquele prato de maniçoba para repor a energia, ou aquele pato para aquecer a alma. A comida, é o pano de fundo nesse grande ato de fé.
O segundo item, é o cheiro!! É impressionante como o cheiro da cidade muda. Antigamente era comum andar no centro da cidade e sentir o cheiro da maniva, hoje por conta de os supermercados venderem maniva cozida, diminui muito o trabalho das pessoas. Mas ainda é comum na periferia fazerem uma fogueira no fundo do quintal e passar uma semana cozinhando a maniçoba. Mas, se tem um cheiro característico, é nos pontos de tacacá, nesse período lotado, mas o cheiro emana por toda a avenida Nazaré, em todas as esquinas. Minha mãe sempre dizia, que comida boa tem que ser cheirosa, por isso não tem como não sentir vontade de comer no período do Círio, pois o cheiro emana por toda cidade.
E por fim, uma das principais mudanças que a descoberta do fogo trouxe para a sociedade na antiguidade foi a comensalidade, que no dicionário nada mais é camaradagem à mesa; camaradagem entre comensais. Ou seja, era comum durante a antiguidade as pessoas saírem para caçar e dividir a sua conquista com as outras pessoas à mesa, e todos comiam de tudo.
A comensalidade do povo paraense, em especial no período do Círio. Se na Bíblia diz que temos que dividir o pão, e que temos que amar um ao outro como nós mesmo, no Círio vemos a representação disso tudo, porque todo mundo se ajuda durante a procissão, mas quanto a dividir o pão, convenhamos que ninguém faz maniçoba só para si, a gente faz para distribuir para todos os amigos. É comum, as pessoas fazerem visitas nas casas do amigo para comer maniçoba, ou levar o potinho para pegar a sua marmita!
O paraense adora receber as pessoas na sua casa nesse período, seja o parente distante que vem, seja o amigo ou seja o desconhecido que passa pela cidade, e a primeira pergunta na hora de se conhecer é: Você vai comer maniçoba onde? Por isso, o círio é bem mais que uma festa religiosa, é a demonstração do paraense pelas suas comidas, é saber que a maniçoba da nossa família é sempre a mais gostosa.
Por isso eu digo, é Círio outra vez, e esse sentimento abraça a todos, todas as religiões, os credos. Na procissão todos são iguais, seja rico ou pobre, preto ou branco, homem e mulher, todos estão colocando sua fé em ação, todos somem no meio da multidão. Mas na cozinha, todos se rendem a uma maniçoba, todos se rendem ao redor da mesa na certeza de que a gastronomia paraense é cheia de história, de temperos e acima de tudo de fé.
Comments